13 de abril de 2019

Ajahn Chah - É tudo muito simples e direto

Pergunta: Mas se não estamos procurando coisa alguma, então o que é o Dharma?

Resposta: Tudo o que você vê é o Dharma; construir uma casa, descer a rua, meditar no banheiro ou aqui, no salão - tudo isso é Dharma. Quando você aprender corretamente, nada existirá no mundo que não seja Dharma. Mas você precisa entender. A felicidade e a infelicidade, o prazer e a dor são nossos eternos companheiros. Quando você entende a sua natureza, Buda e o Dharma estão exatamente ali. Quando você vê claramente, cada momento da experiência é Dharma. Porém, a maioria das pessoas reage cegamente a qualquer acontecimento agradável: "Oba, gostei disto! Quero mais!" - e a qualquer acontecimento desagradável: "Chega! Não gostei disto! Não quero mais." Se, ao contrário, você permitir a si mesmo enfrentar plenamente a natureza de cada experiência da maneira mais simples, você se tornará como um Buda.

Uma vez que tenha entendido, é tudo muito simples e direto. Quando surgem coisas agradáveis, entenda que são vazias. Quando surgem coisas desagradáveis, entende que não são você, nem são suas; elas passam, se vão. Se você não se ligar aos fenômenos como sendo parte de você, nem como se você fosse o seu legítimo dono, a mente chegará a um equilíbrio. Nesse equilíbrio reside o caminho certo, o ensinamento correto de Buda, que conduz à liberação. Muitas pessoas ficam realmente excitadas: "Será que posso chegar a este ou àquele nível de samadhi?" ou "Que poderes posso alcançar?" Elas omitem completamente o ensinamento de Buda em troca de uma outra opção que, na verdade, não é útil. Se você quiser ver, Buda está nas menores coisas que se encontram diante de você. E a essência desse equilíbrio consiste numa mente desembaraçada.

Quando começamos a praticar, é importante possuir o devido senso de direção. Em vez de apenas imaginar em que direção seguir e passar a andar em círculos, para fixar a rota você precisa consultar o mapa de alguém que já esteve lá antes. O caminho para a libertação que Buda ensinou em primeiro lugar foi o Caminho do Meio, que se situa entre os extremos da indulgência no desejo e da automortificação. A mente precisa estar aberta a todas as experiências sem, no entanto, perder o equilíbrio e cair nesses extremos. Isso permite que você veja as coisas sem reagir, sem se agarrar a elas e sem repeli-las.

Quando você entender esse equilíbrio, o caminho se tornará claro. Quanto mais o seu entendimento crescer, quando coisas agradáveis vierem ao seu encontro, mais você compreenderá que elas não duram, que são vazias, que não oferecem segurança. As coisas desagradáveis também não constituirão problemas, porque você verá que elas também não duram, que são vazias. Finalmente, quando você aprofundar no caminho, compreenderá que nada no mundo tem um valor essencial. Não há nada a que nos apegarmos. Tudo é como uma velha casca de banana, ou como a casca de um coco - não lhe servem de nada, não o atraem. Se perceber que as coisas do mundo são como cascas de banana, então você estará livre para andar por aí sem ser ferido ou incomodado de maneira alguma. Este é o caminho que o leva à liberdade.

fonte: "Uma Tranquila Lagoa na Floresta - Meditações de Achaan Chah", organizado por Jack Kornfield e Paul Breiter, Ed. Pensamento, 1994.

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