14 de abril de 2019

Chögyam Trungpa Rinpoche - Meditação é o ato contínuo de ser amigo de si mesmo

Examinamos e vivenciamos o auto-engano plenamente. Andamos carregando um fardo muito pesado, como a tartaruga carrega sua carapaça. Tentamos continuamente fechar-nos nessa carapaça, tentando, com agressão e pressa, verdadeiramente chegar a algum lugar. Precisamos abrir mão de toda a pressa e agressividade, de toda espécie de exigências. Precisamos desenvolver alguma compaixão por nós mesmos, e aí inicia-se a via aberta.

Nesse ponto, é necessário discutir o significado de "compaixão", que é a chave da via aberta e sua atmosfera básica. A melhor e mais correta maneira de apresentar a ideia de compaixão é em termos de clareza, clareza essa que é fundamentalmente calorosa. Nessa fase, sua prática de meditação é o ato de confiar em si mesmo. À medida que a prática ganha destaque em meio às atividades da vida cotidiana, você passa a confiar em si mesmo e a assumir uma atitude compassiva. Nesse sentido, a compaixão não é ter pena de alguém. É essa base calorosa. Por mais espaço e claridade que haja, há também esse calor, uma agradável sensação de que coisas positivas estão acontecendo em nós constantemente. Seja lá o que você estiver fazendo, isso não é visto como algo que arrasta você mecanicamente para uma meditação autoconsciente, mas a meditação torna-se uma coisa espontânea e prazerosa. É o ato contínuo de ser amigo de si mesmo.

Assim, tendo estabelecido amizade consigo, não se pode simplesmente guardar essa amizade dentro de si - é preciso um escape, que é o relacionamento com o mundo. Nessas condições, a compaixão passa a ser uma ponte com o mundo exterior. A confiança e a compaixão em relação a si mesmo traz inspiração para você dançar com a vida, comunicar-se com as energias do mundo.

fonte: "Além do materialismo espiritual", Ed. Lúcida Letra, 2016, p. 119.

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