No budismo, tomamos refúgio para dispor de um referencial interno que nos mantenha estáveis e a salvo, para que não percamos os ensinamentos quando as condições negativas se manifestarem. Embora tenhamos a condição humana preciosa e a conexão com uma linhagem de transmissão dos ensinamentos, nossa posição é frágil, pois somos ameaçados pela impermanência e temos a estrutura de carmas primários que podem se manifestar sob certas condições.
Na ausência da possibilidade de tomar refúgio, oscilamos. Tomar refúgio significa a capacidade de direcionar nossa ação dentro da existência condicionada. Significa que somos livres do carma e das identidades, que podemos exercer nossa liberdade. Tomar refúgio em quê? Na natureza tal como ela é. Não é tomar refúgio em alguém, mas na natureza ilimitada.
Porém, tradicionalmente, tomamos refúgio em um lama. Acontece que o conceito de natureza ilimitada é por demais abstrato para a maioria das pessoas. Assim, o lama é um representante da natureza ilimitada. Por isso dizemos: "Tomo refúgio no lama, que é as Três Joias". Quando o lama desaparecer, estaremos refugiados nas Três Joias. Não há diferença. Essa é a forma adequada de entendimento. Não tomamos refúgio na pessoa do lama, mas nas Três Joias, que tentamos ver através daquele ser à nossa frente. Se não conseguirmos ver, não há como tomar refúgio nelas. Podemos até criar uma relação pessoal com o lama, mas isso não é refúgio. Refúgio é quando o Buda interno, nossa natureza de sabedoria, começa a aflorar, e por isso somos capazes de ver as Três Joias no lama. Se não conseguirmos ver nele essas qualidades, vemos um ser comum.
Um lama em carne e osso ajuda porque ele fala, tem maior proximidade. Como temos dificuldade de localizar o lama interno, é necessário o surgimento de um lama externo, que entra em ressonância com a nossa natureza interna. O refúgio no lama externo é o caminho que nos leva ao ponto último da natureza ilimitada; esse caminho se chama Guru Yoga. Não se trata de um caminho de aprisionamento a alguém, mas um caminho que usa a liberdade para atingir a liberdade final. No ponto final de Guru Yoga, encontramos o Buda interno como nossa natureza incessante e sempre presente.
Olhamos as Três Joias, e tomamos refúgio no Buda como expressão da nossa natureza, daquilo que não nasce, não morre, que está além de espaço e tempo, nome e forma. Quando, nos ensinamentos mais profundos, contemplamos isso, vemos esse Buda como a nossa natureza incessante, sempre presente. Como percebemos que ela é incessante? Podemos ter sonhos, aflições, podemos dormir e ter várias situações no cotidiano. Estamos sempre vivendo alguma coisa. Essa é a explicação mais fácil da natureza incessante; o sonho é incessante; o conteúdo do sonho não é importante, o que importa é ver o processo luminoso, o processo de atribuição de significados, de identidades, operando sem cessar. Isso é a continuidade. A palavra tantra é traduzida às vezes como continuum. Há uma continuidade, é quase fácil de perceber. É claro que precisamos associar essa continuidade à noção de vacuidade, porque é uma continuidade de sonho. O que experimentamos pode ser pensado de diferentes maneiras, mas estamos sempre experimentando uma versão, um aspecto quase onírico. Estamos sempre ao meio de um sonho.
Por isso dizemos que toda a realidade é luminosa, no sentido de que está ligada inexoravelmente a uma interpretação que brota inseparável de nossa estrutura interna. O mundo externo brota inseparável de nossas estruturas de carma. Aquilo que brota dentro de nós, vemos brotando fora, por meio da coemergência. Desse modo percebemos que há algo incessante.
No budismo, dizemos que as experiências não cessam com a morte; outras tradições religiosas dizem o mesmo: uns vão a julgamento, outros para mundos celestiais, outros para o inferno. O importante é que, qualquer que seja o ambiente, há uma continuidade de consciência. É a noção de tantra, um fio que nos vai levando e não é interrompido.
Dizemos que essa natureza é incessante. Estamos falando do Buda em um sentido muito amplo. Essa natureza incessante é luminosa, apresenta sempre diferentes aparências e versões da realidade. Incessante e luminosa, ela é não obstruída e autoliberta; as obstruções surgem e cessam sucessivamente. Ela é naturalmente desobstruída, nenhuma obstrução altera sua qualidade básica de liberdade. Ela é não dual, portanto.
Na ausência da possibilidade de tomar refúgio, oscilamos. Tomar refúgio significa a capacidade de direcionar nossa ação dentro da existência condicionada. Significa que somos livres do carma e das identidades, que podemos exercer nossa liberdade. Tomar refúgio em quê? Na natureza tal como ela é. Não é tomar refúgio em alguém, mas na natureza ilimitada.
Porém, tradicionalmente, tomamos refúgio em um lama. Acontece que o conceito de natureza ilimitada é por demais abstrato para a maioria das pessoas. Assim, o lama é um representante da natureza ilimitada. Por isso dizemos: "Tomo refúgio no lama, que é as Três Joias". Quando o lama desaparecer, estaremos refugiados nas Três Joias. Não há diferença. Essa é a forma adequada de entendimento. Não tomamos refúgio na pessoa do lama, mas nas Três Joias, que tentamos ver através daquele ser à nossa frente. Se não conseguirmos ver, não há como tomar refúgio nelas. Podemos até criar uma relação pessoal com o lama, mas isso não é refúgio. Refúgio é quando o Buda interno, nossa natureza de sabedoria, começa a aflorar, e por isso somos capazes de ver as Três Joias no lama. Se não conseguirmos ver nele essas qualidades, vemos um ser comum.
Um lama em carne e osso ajuda porque ele fala, tem maior proximidade. Como temos dificuldade de localizar o lama interno, é necessário o surgimento de um lama externo, que entra em ressonância com a nossa natureza interna. O refúgio no lama externo é o caminho que nos leva ao ponto último da natureza ilimitada; esse caminho se chama Guru Yoga. Não se trata de um caminho de aprisionamento a alguém, mas um caminho que usa a liberdade para atingir a liberdade final. No ponto final de Guru Yoga, encontramos o Buda interno como nossa natureza incessante e sempre presente.
Olhamos as Três Joias, e tomamos refúgio no Buda como expressão da nossa natureza, daquilo que não nasce, não morre, que está além de espaço e tempo, nome e forma. Quando, nos ensinamentos mais profundos, contemplamos isso, vemos esse Buda como a nossa natureza incessante, sempre presente. Como percebemos que ela é incessante? Podemos ter sonhos, aflições, podemos dormir e ter várias situações no cotidiano. Estamos sempre vivendo alguma coisa. Essa é a explicação mais fácil da natureza incessante; o sonho é incessante; o conteúdo do sonho não é importante, o que importa é ver o processo luminoso, o processo de atribuição de significados, de identidades, operando sem cessar. Isso é a continuidade. A palavra tantra é traduzida às vezes como continuum. Há uma continuidade, é quase fácil de perceber. É claro que precisamos associar essa continuidade à noção de vacuidade, porque é uma continuidade de sonho. O que experimentamos pode ser pensado de diferentes maneiras, mas estamos sempre experimentando uma versão, um aspecto quase onírico. Estamos sempre ao meio de um sonho.
Por isso dizemos que toda a realidade é luminosa, no sentido de que está ligada inexoravelmente a uma interpretação que brota inseparável de nossa estrutura interna. O mundo externo brota inseparável de nossas estruturas de carma. Aquilo que brota dentro de nós, vemos brotando fora, por meio da coemergência. Desse modo percebemos que há algo incessante.
No budismo, dizemos que as experiências não cessam com a morte; outras tradições religiosas dizem o mesmo: uns vão a julgamento, outros para mundos celestiais, outros para o inferno. O importante é que, qualquer que seja o ambiente, há uma continuidade de consciência. É a noção de tantra, um fio que nos vai levando e não é interrompido.
Dizemos que essa natureza é incessante. Estamos falando do Buda em um sentido muito amplo. Essa natureza incessante é luminosa, apresenta sempre diferentes aparências e versões da realidade. Incessante e luminosa, ela é não obstruída e autoliberta; as obstruções surgem e cessam sucessivamente. Ela é naturalmente desobstruída, nenhuma obstrução altera sua qualidade básica de liberdade. Ela é não dual, portanto.
fonte: "A roda da vida como caminho para a lucidez", Ed. Peirópolis, 2010, 146-147.
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