13 de abril de 2019

Shunryu Suzuki - Regras Zen, não questionar, não discriminar, deixar a mente livre, para estudar a mente pura

Práticas físicas e regras não são fáceis de entender, particularmente, quiçá, para os norte-americanos. Vocês têm uma concepção de liberdade voltada para a liberdade física, a liberdade de ação. Essa idéia lhes causa uma certa aflição mental e perda de liberdade. Vocês pensam que querem limitar seus pensamentos porque acham que alguns deles são desnecessários, dolorosos ou emaranhados; mas não pensam em limitar suas atividades físicas. Esta é a razão pela qual Hyakujo estabeleceu as regras e o modo de viver o Zen na China. Seu interesse era exprimir e transmitir a liberdade da verdadeira mente. A mente Zen é transmitida em nosso modo Zen de viver baseado nas regras de Hyakujo.

Penso que precisamos de um modo de viver enquanto grupo e enquanto estudantes Zen nos Estados Unidos, e que, da mesma maneira que Hyakujo estabeleceu o modo de vida monástica na China, temos que estabelecer a forma norte-americana de vida Zen. Não digo isto brincando, falo sério. Mas não quero ficar muito sério. Se nos tornamos sérios demais perdemos o caminho. Se brincamos, também. Aos poucos, com paciência e persistência devemos encontrar o caminho adequado para nós, o modo de viver conosco mesmo e com os outros. Por essa trilha descobriremos nossos preceitos. Se praticamos com afinco, nos concentramos no zazen e organizamos nossa vida de modo a poder sentar bem, descobriremos o que estamos fazendo. Mas temos que ser cuidadosos nas regras e no modo em que se estabelecem. Se elas forem demasiadamente estritas, você falhará; se forem muito frouxas não funcionarão. Nosso caminho deve ser estrito o suficiente para que tenha autoridade, uma autoridade que todos possam obedecer. As regras devem ser passíveis de serem cumpridas. Assim foi instituída a tradição Zen, delineada pouco a pouco, criada por nós mesmos na nossa prática. Não podemos forçar nada. Contudo, uma vez definidas as regras, devemos obedecê-las por completo até que mudem. Não se trata de algo bom ou mau, conveniente ou inconveniente. Apenas faça-o, sem questionar. Dessa maneira sua mente fica livre. O importante é observar as regras sem discriminação. Assim, você conhecerá a mente Zen pura. Ter nossa própria maneira de viver significa encorajar os outros a levarem uma forma de vida mais espiritual e adequada aos seres humanos. Eu acredito que chegará o dia em que os norte-americanos terão a sua própria prática.

A única maneira de estudar a mente pura é através da prática. Nossa natureza mais profunda quer algum meio, algum veículo pelo qual expressar-se e realizar-se. Nós atendemos a esse apelo através de nossas regras, e patriarca após patriarca têm nos mostrado sua verdadeira mente, colocando à nossa disposição uma compreensão mais exata e profunda da prática. Devemos adquirir mais experiência em nossa prática. Ter, pelo menos, alguma experiência de iluminação. Devemos confiar na mente grande que está sempre conosco. Temos de ser capazes de apreciar as coisas como uma expressão da mente grande. Isto é mais do que fé. É a verdade última que não pode ser rejeitada.

fonte: "Mente zen, mente de principiante", Ed. Palas Athena, 9ª ed., 2017

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